quem nunca se pegou num domingo à noite percebendo um vazio dentro de si? a angústia de voltar ao trabalho que enche seu saco, de terminar mais uma semana que não fez nada para si, mais uma semana irá começar e você não tem ideia do que irá fazer de diferente.
vamos falar sobre isso?
a anestesia do automático
a rotina pode ser movimentada, cheia de compromissos, com a sensação de que há sempre algo por fazer. e ainda assim, por dentro, a impressão é de que nada está acontecendo. não é que a vida esteja parada, mas sim que ela tem se repetido. acordar, resolver, trabalhar, lidar com o que aparece, responder mensagens, cumprir obrigações. e repetir isso no dia seguinte, e no outro, e no outro também, até chegar o domingo. é estranho perceber que o movimento não garante significado, e que viver ocupado não significa estar presente.
há uma espécie de desânimo que se instala quando a gente não escolhe o que vive. quando a gente só cumpre. e o mais curioso é que isso não acontece de uma vez — é um tipo de afastamento gradual daquilo que importa. no começo parece prático, depois parece só um jeito de levar. e quando se vê, já faz semanas que você não faz algo que queria, já faz meses que não marca aquele encontro, já faz tempo que não cria uma memória nova. e o corpo até funciona, mas a cabeça não tá lá, o tempo passa, mas você não sente.
quando tudo desacelera, geralmente no fim do domingo, essa anestesia se mostra. não porque algo grave tenha acontecido, mas justamente porque não aconteceu nada. e o que sobra é o vazio de uma vida que se move, mas não se transforma. é aí que mora o perigo do automático: ele não destrói, ele só repete. e repetir sem presença é uma forma sutil de desaparecer.
nada bom vem de graça
é comum acreditar que, se algo é bom, deveria acontecer de forma leve — seja lá o que isso signifique para você. como se o que vale a pena viesse naturalmente, como um presente da vida. mas a verdade é que as coisas boas quase sempre dão trabalho. elas exigem presença, organização, esforço — e não raro, um tipo de cansaço que não se escolhe, mas se aceita. tudo que é construído precisa passar pela resistência que existe entre o desejo e a ação.
esse espaço entre o querer e o fazer é maior do que parece.
muita gente, inclusive eu, já pensou que a dificuldade de manter o que faz bem era um tipo de falha pessoal: preguiça, falta de foco, inconstância. só que, quando se entende o funcionamento do próprio cérebro, isso muda. o sistema neural prioriza o que poupa energia. tudo que exige movimento, por menor que seja, tem a tendência de ser empurrado pra depois. e isso vale inclusive para as coisas que a gente mais gosta. sair de casa, marcar algo, iniciar um treino, preparar um momento de lazer. tudo isso encontra resistência. e não porque não vale a pena, mas porque exige esforço antes de trazer alívio.
o que é bom precisa ser cultivado, e cultivar cansa, mas também lhe preenche.
quando você faz algo por escolha, você retoma uma parte de si que tinha ficado apagada. e mesmo cansado, mesmo ocupado, mesmo em dias ruins, ainda assim vale. porque diferente do que disseram, nem tudo que é bom flui fácil. muitas vezes, o que mais faz sentido é aquilo que a gente quase desistiu de fazer, mas insistiu. e aí percebe: o que vem de graça raramente é o que a gente queria.
o domingo como espelho emocional
o domingo à noite costuma carregar uma melancolia. não é só porque o fim de semana está acabando, ou porque a segunda-feira está chegando. é porque o silêncio desse momento revela o que foi deixado de lado. quando o barulho diminui, o que não foi vivido aparece. e às vezes, não foi vivido porque não deu tempo. mas na maioria das vezes, porque você nem buscou tentar.
há algo cruel em perceber que os dias passaram e pouca coisa mudou. aquela ideia de sexta que você abandonou no sábado, o convite que não respondeu, a conversa que adiou, o desejo que não priorizou. o problema não é não ter feito grandes coisas, é não ter feito nada que fosse realmente seu. e o que sobra é um tipo de vazio que não se resolve com distração, porque o que falta não é só ocupação, é sentido, e sentido não vem pronto, ele é criado a partir daquilo que você escolhe fazer com o tempo que tem.
a síndrome do domingo à noite é, muitas vezes, só o reflexo de uma semana sem presença.
viva. preencha. aja. busque.
vá atrás.
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obrigado por ter lido, até o próximo domingo.
com carinho,
Hugo César de Ruído Silencioso.